quinta-feira, 17 de julho de 2008

Sou Duplum


Banqueiros são presos. Delegados da Polícia Federal lutam um contra os outros. Operações acontecem nas centenas de delegacias, superintendências e postos espalhados pelo país. Combate às drogas, aos crimes do colarinho branco, a defesa das nossas fronteiras e o que mais for de nossa alçada. Bebo uma dose de uísque e sinto minha mente latejar enquanto evito a bebedeira com doses de café e refrigerante.
Meu corpo ainda dói da vigília do dia. Ficamos em uma rodovia estadual aguardando uma quadrilha furtar a carga de um caminhão que levava merenda escolar. A quadrilha atua há cerca de seis meses, mas ainda não os prendemos. Faltam informações para desmantelá-la.
A PF é diferente. Não prendemos o ladrãozinho enquanto pratica um delito. Descobrimos todos os que compõem a quadrilha e a destruímos. Sempre dá prazer ver criminosos implorarem clemência enquanto estão algemados.
Gosto do que faço. Prestei concurso há cerca de 10 anos. Passei pelos exames físicos, psicológicos, cursei jornalismo, direito e preservo o físico com natação e musculação. Meu suor respinga no teclado enquanto teclo. Mas me sinto livre.
Luana, minha colega de operação, desprezou-me durante o dia. Recusou-se a sair comigo. Não quer oficializar namoro com um colega de polícia. Cavalguei sobre ela durante o final de semana. Nádegas rijas e mãos firmes. Excita.
Suor, apesar do ar-condicionado.
O delegado já notou nosso relacionamento. E ela não gostou.
Breve irei me banhar. Participarei de um jantar político. Pretendo encontrar um grupo de jogadores de Paddle que são amigos de um diretor de hospital filantrópico que desvia verbas para seus próprios bolsos. A principal acusação contra ele é a compra de uma propriedade de 40 hectares na Zona Sul de Porto Alegre, onde tem uma belíssima mansão avaliada em mais de dois milhões de euros. E como está registrada essa aquisição? Como se fosse um centro clínico desse hospital cujas verbas deveriam ser reaplicadas na saúde da população. Foi aplicada em cavalos de raça.
Meu revólver calibre 42 está sob o colchão. Nunca o utilizei. Sempre preferi o cérebro ao lugar das armas e nunca errei. Os livros são mais úteis. Sir Arthur Conan Dolye estava certo em criar um Sherlock Holmes que raciocinava ao invés de dar tiros.
Na TV, discutem se um delegado deve participar de uma operação policial. No rádio, discutem sobre um show beneficente promovido pelo hospital filantrópico. Em alguns blogs que visito, vejo comentários que poderiam desencadear novas operações da Polícia Federal. Mas a noite já veio, abrindo seus olhos de estrela sobre a terra.
É momento de eu sair para fazer meu trabalho.
Podem me chamar de Duplum. Você pode me conhecer, mas nunca saber quem sou.

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